
Em Setembro de 2011, um grupo de 13 sócios, em que alguns deles nem se conheciam, decidiu dar uma nova vida ao Estrela da Amadora. Um amor ao clube que fez nascer o CDE – Clube Desportivo Estrela – que promete "refundar" os valores daquele que, um dia, chegou a ser um emblema de referência nacional.
A 29 de setembro de 2009, o Clube de Futebol Estrela da Amadora foi declarado insolvente pelo Tribunal. E a 2 de maio de 2010, para amargo de muitos adeptos, sócios e amantes do clube, realizou o seu último jogo de futebol de seniores, já na Segunda Divisão, zona sul.
Os dias de glória de um dos maiores clubes de Lisboa e de Portugal tinham chegado ao fim. No entanto, um grupo de associados, e também amantes do Estrela, decidiu ‘arregaçar’ as mangas e transformar este triste fim num... renascimento.
No mês de setembro do ano 2011, já bem longe dos holofotes, foi formado o CDE - Clube Desportivo Estrela. Um novo símbolo, novas ideias, mas um objetivo delineado: refundar aquele que, outrora, deu pelo nome de Estrela da Amadora.

Como se deu a extinção de um dos históricos do futebol português
António França, um dos 13 sócios que não quis deixar ‘morrer’ o Estrela, tornou-se no 1.º presidente do clube e explicou, em detalhe ao Desporto ao Minuto, como aconteceu todo o processo de criação do novo Estrela, começando pelo processo de insolvência, que levou à extinção do histórico da Amadora.
“O processo [de insolvência] está rodeado de uma série de coisas estranhas. Ele só podia ser determinado com autorização dos sócios e, para isso, teria de haver uma Assembleia Geral especificamente marcada para o efeito… que nunca aconteceu. Daí, também estranhámos como é que os tribunais aceitaram os pedidos sem verem se quem pede está legitimado para o fazer”, começou por dizer.
“Estou em crer que nem a direção estava já legitimada para o efeito, porque havia muita gente que se tinha demitido e muita gente com o pedido de demissão em curso. Mas, volto a repetir, nada tinha a ver com a direção, porque deveria existir uma AG exclusivamente para os sócios, que teriam de legitimar o processo de insolvência”, acrescentou António França, que deixou ainda algumas farpas à gestão do Estrela da Amadora nos últimos anos.
“O clube de futebol do Estrela da Amadora acabou de uma forma estranhíssima. Mas tudo foi muito estranho nos últimos 25/30 anos neste clube”, realçou.

A nova Estrela que nasceu na Amadora
António França, que foi presidente do Estrela de 2011 a 2018, explicou-nos que, depois de acompanhar todo o processo de insolvência em tribunal, e ver que existiam dívidas reconhecidas de 20 millhões de euros, decidiu-se “começar do zero”.
“As entidades não estavam dispostas a correr o risco de aprovarem um plano de recuperação económica para o clube, com a desconfiança que o mesmo não iria ser cumprido. Quando nós nos apercebemos então desta situação, tentámos que o clube não se perdesse”, explicou.
“Tínhamos gente com mais de 30 anos de sócio e isto não podia ser apenas uma decisão judicial. Juntou-se então um grupo de 13 sócios, todos com as quotas em dia até ao dia da insolvência – alguns de nós nem nos conhecíamos – e decidimos fundar um novo clube. Foi então que, a 28 de setembro de 2011, assinámos a escritura de fundação e nasceu o Clube Desportivo Estrela. Principal objetivo? Refundar o Estrela da Amadora e voltar a fazer dele uma potência desportiva nacional”, sustentou António França, esclarecendo que este não era “um corte com o passado”.
Desaproveitar as camadas jovens foi, para António França, uma das razões que levou o antigo Estrela da Amadora a passar por dificuldades financeiras. Por isso, esta foi uma das primeiras apostas do novo Estrela, que hoje já conta com três modalidades: além do futebol, possui também ténis de mesa e atletismo.
“Nós quisemos fazer a ponte com base nas camadas jovens, que sempre foram um dos grandes trunfos do Estrela da Amadora. A partir de determinada altura deixámos de ser um clube formador e esse também foi um dos grandes problemas. Começámos a ter aqui muita gente que pouco ou nada dizia ao clube, ou este a eles. Fomos claramente um entreposto de jogadores, não tenho dúvidas nenhumas”, afirmou.

No entanto, reerguer um clube não é fácil e acarreta várias (e grandes) dificuldades. A direção do Clube Desportivo Estrela deparou-se com inúmeras logo nos primeiros tempos: o Estádio José Gomes estava muito degradado, as instalações do clube não podiam ser utilizadas na totalidade e a não existência de um relvado sintético, que ajudaria, e muito, na formação do futebol e até, quem sabe, na criação de uma equipa sénior.
António França, em 2016, reconheceu que a Câmara Municipal da Amadora tem um “papel ingrato” neste aspeto, porque existem “dificuldades na área jurídica” para que possa ajudar o clube em relação ao relvado sintético. Porém, o antigo presidente do novo Estrela afirma que “quem não o pode fazer, não se compromete”.
“Fomos informados que não podem ajudar porque há um constrangimento de aplicação de dinheiros públicos em espaços que estejam insolventes. Compreendo que os responsáveis da Câmara não possam fazer qualquer tipo de ‘avarias’ em relação a este assunto. Mas quem não pode fazer, não se compromete”, salientou António França.
Esta continua a ser, aliás, uma das grandes batalhas do Estrela hoje em dia, que continua ano após ano a tentar obter um relvado sintético para o futebol.
In Noticias ao Minuto